SOBRE A TRIBO
A TRIBO
Assis, artista de rua circense, de etnia indígena mista, cuidador de animais, cujo alter ego, “A Tribo”, é um herói que traja a iconografia de seu povo em nome da justiça; Leila Patrocínio, moradora de uma região periférica, jornalista trans, negra e marginalizada, que enfrenta diariamente diversas barreiras sociais em busca pela verdade; e Lucas, um funcionário do precário sistema público de saúde, mas que ainda mantém esperança em seu cotidiano massacrante.
Até então de tinta e texto, esses personagens carregam em comum também o fato de existirem a partir de corpos e vozes reais, que diariamente buscam poesia em uma Recife caótica e excludente.
Refletindo primordialmente os efeitos de uma urbanização desenfreada, e a consequente “higienização” das capitais brasileiras, que empurra para guetos a vivência de corpos que historicamente a sociedade sempre negou, a HQ desenvolvida pelos cineastas Matheus Arruda e Luciano Monteiro passou cerca de dois anos buscando financiamento até finalmente conseguir a publicação online de seu primeiro arco através do Governo do Estado de Pernambuco, via Lei Aldir Blanc no ano de 2021.
Dividido em seis edições, com cerca de 30 páginas, cada, o primeiro arco de A Tribo traz o personagem central em diálogo direto com múltiplas questões que nos atravessam diariamente, seja pela cor da pele, ou pelo próprio sistema vigente, que na história, inclusive, é o principal oponente do herói, sem rosto, sem voz, e que assim continua não materializando a nossa diária luta contra um sistema cada vez mais sufocante no Brasil da atualidade.
Ao longo das seis edições iniciais, acompanhamos A Tribo e seu rico elenco coadjuvante (como os já citados Doutor Lucas e Leila Patrocínio) envolvidos em uma trama criminosa com a chamada Gangue da Fogueira, uma família tradicional Brasileira que domina o tráfico da cidade. Ao longo das seis edições A Tribo (e os leitores) confronta direta e indiretamente os muitos membros da Gangue: desde o mais calmo avô Fumaça, ao jovem cabeça quente Faísca, ao intelectual irmão Brasa e o chefe, o brutal e violento patriarca do clã chamado de Fogo. Mas ao longo do jogo de gato e rato entre Tribo e a Gangue da Fogueira, A Tribo descobrirá que a Gangue da Fogueira é apenas a parte mais visível de um vasto e nefasto Sistema que perpassa todo o Recife e, talvez, todo o país.
A HQ, criada pelo roteirista Matheus Arruda, e pelo ilustrador Luciano Monteiro, ambos cineastas, bebe da fonte do estilo norte-americano popularizado por medalhões como Frank Miller, e Stan Lee, para então adaptar o gênero ao contexto pernambucano, provando, essencialmente, que nossas questões são universais.
Acreditando no poder transformador do gênero muitas vezes ignorado pelo poder público e/ou privado, a primeira edição da revista já foi divulgada em eventos independentes de cultura Nerd/Geek, como a “Feira Asgardiana”, realizada pela Banca de Revista Guararapes no centro da cidade, onde conseguiu boa projeção em 2018.
Agora, no momento de maior fragilidade emocional e psicológica que estamos enfrentamos nesses últimos anos, A TRIBO, faz enfim sua estreia para propor todas essas reflexões, de forma online, e gratuita, democrática, a toda a população.